O projeto
O projeto
Apesar de ser uma das experiências mais significativas e gratificantes da vida do indivíduo, ser pai ou mãe é também uma experiência indutora de stress, pelos seus numerosos desafios e exigências (e.g., educação, resposta a diferentes necessidades desenvolvimentais) (Crnic & Low, 2002). Todos os pais são confrontados, ao longo do desenvolvimento dos seus filhos, com diversos stressores associados à prestação de cuidados, que desafiam a sua capacidade de adaptação individual, podendo influenciar também a qualidade da prestação de cuidados e, consequentemente, o desenvolvimento socioemocional e cognitivo dos seus filhos (Deater-Deckard, 2005).
Assim, é muito importante identificar e promover competências que ajudem os pais a lidar de forma mais adaptativa com as exigências do papel parental. Conhecer melhor algumas competências e de que forma operam é essencial para que possam ser integradas em programas de promoção da adaptação parental (prevenção/intervenção).
Recentemente, alguns estudos têm evidenciado que a promoção de uma parentalidade mindful ou consciente e o desenvolvimento da flexibilidade psicológica parental estão associados, por exemplo, a menor stress parental (Bögels & Restifo 2014; Gouveia, Carona, Canavarro, & Moreira, 2016), a uma relação mais positiva entre pais e filhos (Coatsworth et al. 2015; Lippold et al. 2015), a estilos parentais mais adaptativos (Brassell et al., 2016; Burke & Moore, 2015; de Bruin et al. 2014; Gouveia et al. 2016; Parent, McKee, Rough, & Forehand, 2016), e a um melhor funcionamento psicológico dos filhos (Cheron, Ehrenreich, & Pincus, 2009; Moyer & Sandoz, 2015; Parent et al. 2016). Contudo, a investigação nestas áreas é ainda muito recente, sendo fundamental o desenvolvimento de estudos que procurem melhor compreender estes recursos ou competências, através da identificação de diversos fatores (e.g., individuais, relacionais) com os quais poderão estar associados.
Neste estudo pretende-se: 1) conhecer as características individuais e do contexto de prestação de cuidados que influenciam a parentalidade consciente e a flexibilidade psicológica parental; e 2) compreender as relações entre a parentalidade consciente, a flexibilidade psicológica parental, a adaptação dos pais e as suas práticas parentais.
Parentalidade Consciente
A parentalidade consciente ou mindful pode ser definida como uma forma de parentalidade que procura aplicar os princípios do mindfulness à relação pais-filhos. Trata-se, portanto, de um conjunto de práticas parentais que refletem estes princípios e que visam o estabelecimento de uma relação na qual os pais adotam uma postura de compaixão e de aceitação não ajuizadora dos seus filhos e de e si próprios enquanto pais, procurando estar atentos e totalmente presentes quando interagem com os filhos (Bögels & Restifo, 2014; Duncan, Coatsworth, & Greenberg, 2009; Kabat-Zinn & Kabat-Zinn, 1997).
Nos últimos anos, vários estudos têm mostrado que a parentalidade consciente está associada a uma parentalidade mais eficaz e positiva, caracterizada por níveis mais baixos de stress parental (Beer et al. 2013; Bögels & Restifo 2014; Gouveia et al., 2016) e por estilos e práticas parentais mais adaptativos (de Bruin et al. 2014; Gouveia et al. 2016; Parent, McKee, Rough, & Forehand, 2016) promovendo, consequentemente, interações mais positivas entre pais e filhos (Coatsworth et al. 2010; Coatsworth et al. 2015; Duncan et al. 2009; Lippold et al. 2015) e uma relação entre ambos mais segura (Medeiros et al., 2016). Vários estudos mostram também que esta abordagem parental promove um melhor funcionamento socioemocional das crianças/adolescentes, associando-se, por exemplo, a menos problemas de internalização e externalização (Parent et al., 2016) e a uma melhor qualidade de vida (Medeiros et al., 2016).
Flexibilidade psicológica parental
A flexibilidade psicológica parental pode definir-se como o estado de aceitar os pensamentos, emoções e impulsos negativos em relação aos filhos (por exemplo, raiva ou o desejo de gritar) à medida que eles vão surgindo, ao mesmo tempo que se gerem os comportamentos no sentido de manter uma relação consistente com os valores e boas práticas parentais (por exemplo, expressar apoio e proximidade e estabelecer limites; Burke & Moore, 2015). Esta competência é importante porque permite ajudar os pais a aceitar, sem julgamento, as mudanças e os pensamentos e emoções negativas que possam surgir em relação à experiência parental, permitindo-lhes continuar a envolver-se em ações que traduzam aquilo que é importante para eles enquanto pais (os seus valores; por exemplo, ter uma relação próxima com o filho; responder às suas necessidades).
A investigação sobre a flexibilidade psicológica parental é, ainda recente, mas os estudos que existem têm demonstrado que esta competência pode ser importante na promoção de boas práticas parentais e de respostas mais sensitivas às necessidades da criança (Brassell et al., 2016; Burke & Moore, 2015), o que se parece traduzir também num melhor ajustamento da criança/adolescente (Cheron, Ehrenreich, & Pincus, 2009; Moyer & Sandoz, 2015), já que esta se torna mais capaz de responder adequadamente às exigências do seu ambiente (Williams, Ciarrochi, & Heaven, 2012).